Prezados(as) amigos(as) e demais interessados(as),
Seguem mais resumos dos trabalhos que serão apresentados no evento "IV Colóquio do NECC: A Hora da Estrela Clarice Lispector (40 anos)"
RASTROS DE UMA VIDA ESCRITA/INSCRITA NA POÉTICA DE EXÍLIO DE
CLARICE LISPECTOR
Marta Francisco de Oliveira (UFMS)
e-mail: martisima@gmail.com
RESUMO: O objetivo desta comunicação é analisar como
a trajetória exílica se torna uma marca textual perceptível na obra de Clarice
Lispector através de personagens que, embora díspares e únicos em suas
composições, agregam em si o traço compartilhado que, independentemente de sua
condição e circunstâncias narrativas, formam o compósito que se pode chamar de
poética de exílio em Lispector. De fato, a própria vida da escritora se
inscreve pelos mesmos meandros desta poética, ao passo que também se escreve,
ficcionalmente narrada, em seus variados textos, dissimulada, mascarada,
diluída e profundamente arraigada na trama de narrativa da escritora. Neste
estudo, interessa-nos identificar os rastros de composição textual clariciana
que evidenciam que, ao lado da narrativa de cunho biográfico de Elisa
Lispector, é erigida uma reconstrução poético-visual da história familiar e
pessoal de Clarice, adentrando sua obra e constituindo sua própria narrativa
poética de exílio.
A CRIANÇA E A DESCOBERTA DO MUNDO: “A DOR E A ALEGRIA
DE SER O QUE É”
Rodrigo Pessoa Oliveira
(UEMS)
Maria Helena de Queiroz
(UEMS)
e-mail:helenetl@yahoo.com.br
Resumo: este trabalho propõe uma análise da
infância a partir da leitura de dois contos: Nessa poeira não vem mais seu pai, de Augusto César Proença, inserido
na obra Rodeio a céu aberto (2009), e Restos de carnaval, de Clarice Lispector, presente no livro Felicidade
Clandestina (1971). Por intermédio da aproximação do eixo temático dessas
narrativas, que gira em torno do universo infantil, é possível afirmar que ele
se constrói de forma bastante realista, a partir de imagens da infância em
situações de desequilíbrio, em seus momentos de aprendizagem do mundo. Neste, a
harmonia se ausenta, o que favorece o estado crítico do ser criança que precisa
aprender a lidar com a sua dor, dor que aparecerá, por exemplo, no sentimento
de abandono que a “morte” propicia. Desse modo, essas imagens não são desenhadas
de forma idealizada: em sua solidão, e intentando se proteger, a criança cria,
em paralelo a uma vida de sofrimento, um mundo sonhado, que lhe acolhe e acalma,
em instantes de felicidade. Compreendemos que a infância, tema comumente
relegado à literatura infantil, encontra na obra de grandes autores, terreno de
reflexão acerca das suas (des)venturas, e
que propicia, também à nós, adultos, o conhecimento da própria natureza humana,
uma vez que reflete a história de vida de todo ser. Para desenvolver esse
pensamento, contaremos com o apoio teórico de escritores como Gaston Bachelard,
Benedito Nunes, Nadia Gotlib e Tânia Carvalhal. Este último nome assinala que o
trabalho será desenvolvido sob à luz da teoria do estudo comparado.
Palavras-chave: Infância;
Literatura Comparada; Clarice Lispector.
LUGARES
E NÃO LUGARES DO FEMININO EM A HORA DA
ESTRELA, DE CLARICE LISPECTOR
Autora: Cíntia Naiara de Souza Melo (SED/SEMED/MS)
Coautor: Raul Gomes Da Silva (UFMS/CAPES. Membro do Grupo
de Pesquisa Espaço, Literatura e outras Artes UnB/CNPq)
Resumo:
Passados
exatos quarenta anos da publicação de A
hora da estrela, a narrativa de Clarice Lispector continua provocando novas
leituras e análises no campo da pesquisa literária brasileira. Isso ocorre porque
as significações do texto ficcional modificam-se de acordo com o deslocamento
temporal e espacial do olhar do leitor acerca o objeto artístico. Tal olhar é
sempre novo quando considerado que o contexto social, político e literário
transformam-se constantemente em razão da própria vicissitude humana. Diante
disso, este trabalho pretende revisitar a referida obra com o intuito de
observar os lugares e os não lugares do feminino a partir da análise da personagem
protagonista Macabéa. Nesse percurso em direção à obra clariciana o lugar é
compreendido segundo relações de posicionamento e localização, ou seja,
enquanto espaço que é não só físico, mas, especialmente, discursivo. Os textos Gênero: uma categoria útil para a análise
histórica (1989), de Joan Scott, e Teorias
do Espaço Literário, de Brandão (2013) auxiliam, sumariamente, o
desenvolvimento deste estudo.
Palavras-chave: feminino; lugar;
não-lugar; espaço; discurso.
O (PER)CURSO IDENTITÁRIO DE MACABÉA: SUBJETIVIDADE E
(DES)COLONIZAÇÃO
Laura Cristhina Revoredo Costa (PG/UFMS)
Vania Maria Lescano Guerra (UFMS)
RESUMO: Temos por objetivo
estudar os efeitos de sentidos que emergem do discurso literário de Clarice
Lispector, especificamente da
tradução espanhola La
hora de la estrella,
realizada por Ana Poljak (“A hora da estrela”).
Interessa-nos entender a constituição identitária da personagem feminina
Macabéa e problematizar as
representações sociais e as relações de poder, na investigação das práticas de
subjetivação desse discurso, ligadas à constituição da identidade da mulher. Para isso, a fundamentação transdisciplinar traz a
perspectiva discursivo-desconstrutivista (CORACINI, 2007), o suporte
teórico-metodológico foucaultiano arqueogenealógico (1987), além do panorama
pós-colonialista (MIGNOLO, 2003). Como
resultados preliminares, verificamos que na identificação de Macabéa
destacam-se, como marcas subjetivas, a profissão de datilógrafa, a questão da
virgindade, a ignorância/insignificância na sociedade da época e a busca de
identificação com os ícones simbólicos transnacionais como, por exemplo, a
Coca-Cola, o McDonald e Marylin Monroe. Observamos que a virgindade, para a
personagem, constituía uma forma de poder, via resistência à sociedade
constituída de sua época, na qual ela fazia parte da massa subalterna. Vale
ressaltar que este trabalho, ao examinar a tradução para a língua espanhola,
tem por meta, também, entender a (des)colonização e a transculturação, assim
como expandir a discussão de temas cada vez mais recorrentes na cultura como
exclusão e preconceito.
O
SILENCIAMENTO E SEUS EFEITOS DE SENTIDO NO DISCURSO LITERÁRIO: SUBJETIVIDADE E
LINGUAGEM
João Paulo Tinoco Machado (PG/UFMS)
Vania Maria Lescano Guerra (UFMS)
Temos por meta problematizar os
efeitos de sentido do discurso literário de Clarice Lispector, a partir do
estudo da tradução inglesa de “Água viva”, por Stefan Tobler. A análise está amparada pela Análise de Discurso
de origem francesa, que traz o caráter de equivocidade da língua e
constitui-se, desse modo, como um lugar teórico de reflexão sobre a
interpretação e a multiplicidade dos sentidos. A reflexão acerca da linguagem,
do funcionamento de seus sentidos, encontra no discurso literário um espaço
privilegiado para sua existência. O silêncio, elemento fundamental à
significação emerge como a condição que torna possível o entendimento da não
transparência da linguagem (ORLANDI, 1986). Por meio do silenciamento podemos
chegar a uma multiplicidade de sentidos que compõe o processo discursivo,
trazendo o carácter polissêmico e incompleto da linguagem. Temos por hipótese
de pesquisa que a escritora Clarice Lispector apresenta nessa sua obra uma farta
reflexão sobre a linguagem, o que nos leva a compreender o modo como a
incompletude da linguagem, intrínseca ao silêncio, funciona em seu processo
discursivo. Consideramos que a obra “Água Viva” constitui um discurso literário
que rompe com a prosa realista predominante à época, início do século XX, pela
forma como é estruturado, sem início, meio e fim, o que nos leva a considerar
que nele a temática é a linguagem, sua função simbólica e a produção de
sentidos. Para nós, cada leitura só pode ser considerada aceitável apenas
dentro de uma determinada situação e perspectiva, porque o sujeito lê o que lê
a partir de tudo o que o constitui como sujeito: seu inconsciente, sua
história, sua cultura, sua ideologia (DERRIDA, 1995).
O ENIGMA É O OUTRO: UMA LEITURA DAS RELAÇÕES SOCIAIS NOS CONTOS A BELA E A FERA OU A FERIDA GRANDE DEMAIS E A LÍNGUA DO P, DE CLARICE LISPECTOR
Francisca Luana Rolim Abrantes
(Curso Superior de Letras, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba-Campus Sousa);
E-mail: luana_abrantes@hotmail.com
Profa. Ma. Risonelha de Sousa Lins
(Curso Superior de Letras, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba-Campus Sousa);
E-mail: risonelha@gmail.com
RESUMO: Clarice Lispector, escritora de vasta produção literária, correspondente a romances, contos, crônicas e livros infantis, tem sua obra analisada, de modo geral, pelas temáticas existenciais. Durante muito tempo, foi criticada, por apresentar os problemas sociais a partir das reações do sujeito que os vive, fugindo das propostas da geração de 30. Entretanto a sua obra ganhou novos enfoques na contemporaneidade, uma vez que aspectos sociais como violência física e simbólica, desigualdades sociais, hipocrisias e desajustes são conflitos reveladores em suas narrativas. Para o crítico Luiz Antônio Magalhães (2001), uma obra tão abrangente como a dessa escritora não deve fugir ao desafio analítico das relações sociais. Assim, neste ano de 2017, quando a obra A hora da Estrela completa seus 40 anos, questões como miséria, pobreza e discriminação, diluídas no processo de construção do estético clariceano, surgem como uma nova forma de visualizar a situação de Macabéa, nordestina, apontada pelo narrador como um sujeito “incompetente para a vida”. Essa personagem como tantas outras evidenciam as percepções do sujeito em relação ao espaço e as relações que o cercam. Neste sentido nos questionamos: a análise das relações sociais pode lançar luz sobre outros aspectos da obra de Clarice Lispector? A observação do esforço das personagens dentro das relações eu-outro pode revelar aspectos sociais do drama da personagem? Com base em tais questionamentos, pretendemos abordar neste artigo o aspecto social das relações entre os personagens das narrativas “A Bela e a Fera ou a Ferida Grande Demais”, da obra A Bela e a Fera e “A língua do P", de A via Crucis do Corpo, tomando como base a categoria do espaço. A análise parte dos pressupostos teóricos de Lúcia Helena (1997), Benedito Nunes (1989), Olga de Sá (1979) e Nádia Batella Gotlib (1994), dentre outros pesquisadores da obra da referida escritora. O estudo é de caráter bibliográfico e se fundamenta no exame das relações estabelecidas nos limites do texto.
Palavras- chave: Clarice Lispector; Relações sociais; Espaço.
CLARICE É A MINHA NEBLINA
Edgar Cézar NOLASCO (NECC-UFMS; PACC-URFJ)
E-mail: ecnolasco@uol.com.br
RESUMO: Há quase quarenta anos
que nutro uma amizade indestrutível e, ao mesmo tempo, produtiva por Clarice
Lispector. Teve a morte no começo de tudo, mas eu ainda não sabia da existência
da indesejada de todos no meio de nosso caminho. Se, nos primeiros anos do
encontro, não passava de um jovem leitor apaixonado pelo romance Perto do coração selvagem, nos anos
seguintes em diante detive-me noites afora em decifrar os mistérios dos
sentidos que achava estar depositados dentro de sua escritura. Nesses últimos
40 anos, descobri que Clarice é meu sintoma, assim como a teoria que articulo a
partir de meu lócus biográfico cultural. Há uma Clarice que sobrevive em mim, que sobrevive a partir de mim. É dessa
persona clariciana que quero falar em meu texto. Quero falar de uma Clarice a partir de mim.
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