Em meio a estes tempos sombrios e TEMERosos da política brasileira de 2017, lembramos, talvez não por acaso, que o livro A hora da estrela, da intelectual Clarice Lispector, faz 40 anos de sua publicação (1977). Não por acaso porque, ressalvadas as diferenças, o contexto no qual a novela foi escrita também era repressivo, ditatorial e sumariamente desalentador. Assim, valendo-se de sua arma mais poderosa, a linguagem literária, e já talvez antecipando o que Bhabha viria a nos ensinar depois de que narrar é narrar a nação, a intelectual tratou, sem dó nem piedade, de uma realidade política pouco explorada ainda pela narrativa literária brasileira. Apesar de sua participação na passeata dos 100 mil e de algumas crônicas de protestos, incluindo até mesmo alguns pequenos textos considerados ficcionais como é o caso do conto “Mineirinho”, foi por meio de seu compromisso com a linguagem que Clarice soube se antecipar e dar a melhor resposta possível de como captar a realidade política daquele momento histórico do país. Mesmo passados 40 anos de sua publicação, o livro A hora da estrela traz e apresenta-nos um projeto intelectual arrojado que, entre outras leituras, ajuda-nos a compreender melhor essa realidade política brasileira que não nos cansa de surpreender com suas atrocidades, gatunos e malas.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Terceira Circular do Evento

IV COLÓQUIO DO NECC: A HORA DA ESTRELA CLARICE LISPECTOR (40 anos)

DIAS: 18, 19 & 20 DE OUTUBRO DE 2017
LOCAL: ANFITEATRO DO CCHS


TERCEIRA CIRCULAR

ATENÇÃO: Sai agora a TERCEIRA CIRCULAR trazendo, entre outras informações, a divulgação dos Eixos Temáticos do evento. Informamos que todas as condições necessárias para efetuar a inscrição no evento encontram-se divulgadas no blog do Evento (https://ahoradaestrelaclaricelispector.blogspot.com.br/).


Abro esta terceira e última circular querendo justificar os EIXOS TEMÁTICOS de forma textual. Sobre os 40 anos tanto da morte de Clarice Lispector, quanto de A hora da estrela, já é público e notório o conhecimento de todos os envolvidos quando o assunto é Clarice Lispector hoje. Sobre a crítica acerca da escritora, resta-nos pontuar o seguinte: se, por um lado, muita tinta já correu e escorreu sobre sua obra dentro e fora do país, por outro lado, vemos, passados esses 40 anos, que muito ainda se há por dizer sobre a obra da intelectual, inclusive propor uma releitura crítica da própria crítica realizada. Exemplo disso são os textos críticos arrolados na edição comemorativa dos 40 anos de A hora da estrela. Tais textos, grosso modo, perdem a oportunidade de ler o livro clariciano hoje, num Brasil que tem muito de igual e de diferente com relação ao contexto de 70. Nessa discussão, a obra de Clarice continua mais atualizada do que os textos críticos, quando estes poderiam reatualizar a obra, que já é uma jovem senhora. Sobre a política em Clarice Lispector é um assunto caro à intelectual e que foi pouco estudado a partir de sua obra. Exceto um belo texto de Silviano Santiago, o que temos é quase nada. Na verdade, quero entender que a boa crítica clariciana, bem como seus biógrafos, não se detiveram na questão do político em Clarice por estarem tão somente voltados para sua estética literária. Aproveitando a oportunidade, entendo que o pequeno grande livro A hora da estrela é um dos livros da literatura brasileira que toca mais fundo na questão da política no país. Sobre a escritora e seus amigos, entendemos que muitas relações de amizades podem ser estabelecidas, inclusive visando amigos da América Latina, como Borges e Cortazar. Sobre a aproximação entre Clarice e a crítica biográfica muito se há por ser feito nas novas leituras acerca da vida e da obra da escritora, uma vez que entendemos e já defendemos a idéia de que a gênese da criação literária da escritora tem um estofo biográfico. Nesse sentido, também entendemos que falta uma biografia cultural sobre a escritora, que contemple a relação vida e obra nas mesmas proporções. Sobre a intelectual Clarice Lispector entendemos que ainda se pode propor leituras críticas que destoem do modo como a intelectual foi lida até então. Sem desmerecer as leituras críticas feitas, o fato é que faltou uma página que inserisse e contextualize a escritora enquanto intelectual de uma época e da época atual. O relançamento da edição crítica de A hora da estrela neste 2017 foi a oportunidade para pontuar o papel e lugar da intelectual ontem e hoje. Sobre as várias personae da escritora talvez seja uma das abordagens mais injustiçadas, uma vez que sempre tivemos, além de uma Clarice ficcionista, uma Clarice tradutora, uma pintora entre tantas outras. Somente bem recentemente apareceram alguns poucos trabalhos sobre essas personae, enquanto outras Clarices, como a jornalista, foram bastante e bem estudadas. De uma forma ou de outra, o que faltou mesmo foi a crítica mostrar o atravessamento que uma prática teve na outra, ao invés de reforçar a importância de uma prática sobre a outra,  como aconteceu quando se privilegiou mais a prática literária de uma intelectual tão multifacetada. Sobre a mulher encadernada retoma a questão acerca das biografias sobre a escritora. Entendemos que por mais que haja várias biografias, inclusive como a da maior biógrafa da escritora  Nádia B. Gotlib, ainda falta um trabalho de base cultural, que tome a vida e a obra num campo compósito único  (SOUZA), como propõe a crítica biográfica cultural brasileira. Já sobre os trabalhos acadêmicos que contemplam a obra da escritora o que vemos são mais e mais pesquisas sendo realizadas e publicadas no meio acadêmico do país, de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Essa constatação mostra o quanto a obra clariciana continua sendo uma das produções literárias brasileiras mais estudada nas universidades do país, atestando, entre outras coisas, o quanto o projeto da intelectual sempre foi consistente e coerente dentro da tradição literária brasileira, mesmo quando dialogava com esta pelo avesso.


(A hora da estrela faz 40 anos. Faz 40 anos que Clarice Lispector morreu. Faz 40 anos que a mortífera Macabéa sobrevivia nos becos e vielas da cidade maravilhosa Rio de Janeiro. Naquele contexto, a cidade e o país como um todo viviam sob o regime da ditadura, repressão e censura. Corpos humanos simplesmente desapareciam da noite para o dia. Outros, como o da miserável nordestina Macabéa perambulava pelos cortiços, botecos e vielas imundas. Às vezes acompanhada pelo cantar de um galo no morro. Sempre acompanhada e em meio ao barulho ensurdecedor dos automóveis anunciando o progresso,o desenvolvimento,o crescimento exagerado da cidade. Entre Geisel e golpes a política brasileira, para variar, vai bem, obrigada, e até manda lembranças e beijinhos para o povo brasileiro. Macabéa continua em movimento e ouvindo de quando em quando a Rádio Relógio tocar a música O leãozinho, na voz inconfundível do jovem Caetano Veloso. Mas quarenta anos não se passaram em vão. Muita coisa no país mudou para melhor. Talvez a própria  literatura política da intelectual Clarice Lispector tenha contribuído para isso. Uma coisa é certa: o Rio de Janeiro continua lindo! O que continua feio é o que vem acontecendo neste seu contexto de agora: trabalhadores de uma vida inteira têm sua vida ameaçada: sem salário, sem dignidade, sem segurança e sem poder fazer nada! Os políticos locais comeram o direito/dinheiro do povo! O que acontece na política do Rio ilustra as decisões políticas tomadas no meio da madrugada, ou na calada da noite, em Brasília, na capital federal. Assim, somos todos nós, trabalhadores brasileiros, macabéas/macabeus mortos, cansados, desesperançados, sem futuro, sem dignidade, sem salário, sem comida, representantes de nossa própria miséria. O Brasil não é longe dessa falta de direito adquirido; antes, é o centro imperial desse vale tudo antipolítico. Quarenta anos depois, fico imaginado Macabéa nos dias atuais da cidade toda feita contra ela. Teria sido assassinada, como acontecera com Mineirinho. Ou teria perambulado pelas ruas da cidade maravilhosa, até cair exausta no chão, de fome, sede, sem trabalho, sem dignidade, sem dindim para pagar água e luz, nem muito menos para comprar um pingado num boteco qualquer de uma esquina qualquer de uma cidade qualquer...)

Em meio a estes tempos sombrios e TEMERosos da política brasileira de 2017, lembramos, talvez não por acaso, que o livro A hora da estrela, da intelectual Clarice Lispector, faz 40 anos de sua publicação (1977). Não por acaso porque, ressalvadas as diferenças, o contexto no qual a novela foi escrita também era repressivo, ditatorial e sumariamente desalentador. Assim, valendo-se de sua arma mais poderosa, a linguagem literária, e já talvez antecipando o que Bhabha viria a nos ensinar depois de que narrar é narrar a nação, a intelectual tratou, sem dó nem piedade, de uma realidade política pouco explorada ainda pela narrativa literária brasileira. Apesar de sua participação na passeata dos 100 mil e de algumas crônicas de protestos, incluindo até mesmo alguns pequenos textos considerados ficcionais como é o caso do conto “Mineirinho”, foi por meio de seu compromisso com a linguagem que Clarice soube se antecipar e dar a melhor resposta possível de como captar a realidade política daquele momento histórico do país. Mesmo passados 40 anos de sua publicação, o livro A hora da estrela traz e apresenta-nos um projeto intelectual arrojado que, entre outras leituras, ajuda-nos a compreender melhor essa realidade política brasileira que não nos cansa de surpreender com suas atrocidades, gatunos e malas.

Além da homenagem prestada ao livro, o NECC, ao propor a temática A HORA DA ESTRELA CLARICE LISPECTOR, também presta homenagem aos 40 anos de morte da escritora, ocorrida naquele início de dezembro escaldante de 1977. Quarenta anos sem Clarice são correlatos a quarenta anos com Clarice, já que, em se tratando da crítica brasileira, e até mesmo dos estudos feitos no exterior, essa crítica nacional não tem feito outra coisa nestes últimos 40 anos senão elevar a escritora e sua obra ao mais alto patamar já alcançado por uma intelectual mulher dentro do projeto que sustenta a literatura brasileira.

Justificada e tornada pública a proposta temática do IV COLÓQUIO DO NECC, passamos a algumas informais prévias e gerais acerca da organização e participação no evento.

O CONVITE, inicialmente, é feito a todos os interessados, quer seja como participantes, quer seja como apresentadores de papers. Visando a que todos os interessados possam efetivamente participar, trazemos algumas informações necessárias:

1- É condição sine qua non que todo trabalho trate da obra ou vida da escritora, mencione textualmente sua obra ou aluda diretamente à produção intelectual da escritora.

2- Acadêmico de Graduação pode participar com apresentação de trabalho, desde que tenha algum tipo de bolsa científica e o trabalho seja em coautoria com o professor responsável e respectivo orientador do acadêmico;

3- Pós-graduando, nível mestrado e doutorado, pode participar com apresentação de trabalho, desde que em coautoria com seu respectivo orientador de pesquisa;

4- Professores em geral, de preferência que tenham defendido trabalhos acadêmicos sobre a obra de Clarice Lispector;

5- Professores em geral, cujo trabalho a ser apresentado seja sobre Clarice Lispector, ou aluda à sua obra por meio de uma perspectiva comparatista, impreterivelmente;

6- Pesquisadores em geral da obra da Escritora;

7- Interessados em geral cuja proposta passe diretamente pela obra, vida ou fortuna crítica da escritora.

8- Participantes em geral, sem apresentação de trabalho, terão apenas que se inscrever no momento oportuno, por meio de ficha a ser disponibilizada no momento certo.

EIXOS TEMÁTICOS SUGERIDOS:
1-      Clarice Lispector 40 anos depois
2-      A hora da estrela 40anos depois
3-      Clarice Lispector e a crítica
4-      A política em Clarice Lispector
5-      Clarice Lispector e os amigos
6-      Clarice Lispector e a crítica biográfica
7-      A intelectual Clarice Lispector
8-      As várias personae de Clarice Lispector
9-      A mulher encadernada Clarice Lispector
10-  Trabalhos acadêmicos sobre Clarice Lispector

ATENÇÃO: FICHA DE INSCRIÇÃO, VALOR DE INSCRIÇÃO, NORMAS BIBLIOGRÁFICAS DO RESUMO ENCONTRAM-SE NO BLOGUE A HORA DA ESTRELA CLARICE LISPECTOR


[...] o que me provoca e inspira para a vida:
estrela acesa ao entardecer.

Um sopro de vida.
ATENCIOSAMENTE,

Prof. Dr. Edgar Cézar Nolasco
COODENADOR DO NECC E DO EVENTO

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