IV
COLÓQUIO DO NECC: A HORA DA ESTRELA
CLARICE LISPECTOR (40 anos)
DIAS: 18, 19 & 20 DE OUTUBRO
DE 2017
LOCAL: ANFITEATRO DO CCHS
TERCEIRA CIRCULAR
ATENÇÃO: Sai agora a TERCEIRA CIRCULAR trazendo,
entre outras informações, a divulgação dos Eixos Temáticos do evento.
Informamos que todas as condições necessárias para efetuar a inscrição no evento
encontram-se divulgadas no blog do Evento (https://ahoradaestrelaclaricelispector.blogspot.com.br/).
Abro esta terceira e última
circular querendo justificar os EIXOS TEMÁTICOS de forma textual. Sobre os 40 anos tanto da morte de
Clarice Lispector, quanto de A hora da
estrela, já é público e notório o conhecimento de todos os envolvidos
quando o assunto é Clarice Lispector hoje. Sobre
a crítica acerca da escritora, resta-nos pontuar o seguinte: se, por um
lado, muita tinta já correu e escorreu sobre sua obra dentro e fora do país,
por outro lado, vemos, passados esses 40 anos, que muito ainda se há por dizer
sobre a obra da intelectual, inclusive propor uma releitura crítica da própria
crítica realizada. Exemplo disso são os textos críticos arrolados na edição
comemorativa dos 40 anos de A hora da estrela.
Tais textos, grosso modo, perdem a
oportunidade de ler o livro clariciano hoje, num Brasil que tem muito de igual
e de diferente com relação ao contexto de 70. Nessa discussão, a obra de
Clarice continua mais atualizada do que os textos críticos, quando estes
poderiam reatualizar a obra, que já é uma jovem senhora. Sobre a política em Clarice Lispector é um assunto caro à
intelectual e que foi pouco estudado a partir de sua obra. Exceto um belo texto
de Silviano Santiago, o que temos é quase nada. Na verdade, quero entender que
a boa crítica clariciana, bem como seus biógrafos, não se detiveram na questão
do político em Clarice por estarem tão somente voltados para sua estética
literária. Aproveitando a oportunidade, entendo que o pequeno grande livro A hora da estrela é um dos livros da
literatura brasileira que toca mais fundo na questão da política no país. Sobre a escritora e seus amigos,
entendemos que muitas relações de amizades podem ser estabelecidas, inclusive
visando amigos da América Latina, como Borges e Cortazar. Sobre a aproximação entre Clarice e a crítica biográfica muito se
há por ser feito nas novas leituras acerca da vida e da obra da escritora, uma
vez que entendemos e já defendemos a idéia de que a gênese da criação literária
da escritora tem um estofo biográfico. Nesse sentido, também entendemos que
falta uma biografia cultural sobre a escritora, que contemple a relação vida e
obra nas mesmas proporções. Sobre a
intelectual Clarice Lispector entendemos que ainda se pode propor leituras
críticas que destoem do modo como a intelectual foi lida até então. Sem
desmerecer as leituras críticas feitas, o fato é que faltou uma página que
inserisse e contextualize a escritora enquanto intelectual de uma época e da
época atual. O relançamento da edição crítica de A hora da estrela neste 2017 foi a oportunidade para pontuar o
papel e lugar da intelectual ontem e hoje. Sobre
as várias personae da escritora talvez seja uma das
abordagens mais injustiçadas, uma vez que sempre tivemos, além de uma Clarice
ficcionista, uma Clarice tradutora, uma pintora entre tantas outras. Somente
bem recentemente apareceram alguns poucos trabalhos sobre essas personae, enquanto outras Clarices, como
a jornalista, foram bastante e bem estudadas. De uma forma ou de outra, o que
faltou mesmo foi a crítica mostrar o atravessamento que uma prática teve na
outra, ao invés de reforçar a importância de uma prática sobre
a outra,
como aconteceu quando se
privilegiou mais a prática literária de uma intelectual tão multifacetada. Sobre a mulher encadernada retoma a
questão acerca das biografias sobre a escritora. Entendemos que por mais que
haja várias biografias, inclusive como a da maior biógrafa da escritora Nádia B. Gotlib, ainda falta um trabalho de
base cultural, que tome a vida e a obra num campo compósito único (SOUZA), como propõe a crítica biográfica
cultural brasileira. Já sobre os
trabalhos acadêmicos que contemplam a obra da escritora o que vemos são
mais e mais pesquisas sendo realizadas e publicadas no meio acadêmico do país,
de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Essa constatação
mostra o quanto a obra clariciana continua sendo uma das produções literárias
brasileiras
mais estudada nas universidades do país, atestando, entre outras coisas, o
quanto o projeto da intelectual sempre foi consistente e coerente dentro da
tradição literária brasileira, mesmo quando dialogava com esta pelo
avesso.
(A hora da estrela faz 40 anos. Faz 40 anos que Clarice Lispector
morreu. Faz 40 anos que a mortífera Macabéa sobrevivia nos becos e vielas da
cidade maravilhosa Rio de Janeiro. Naquele contexto, a cidade e o país como um
todo viviam sob o regime da ditadura, repressão e censura. Corpos humanos
simplesmente desapareciam da noite para o dia. Outros, como o da miserável
nordestina Macabéa perambulava pelos cortiços, botecos e vielas imundas. Às
vezes acompanhada pelo cantar de um galo no morro. Sempre acompanhada e em meio
ao barulho ensurdecedor dos automóveis anunciando o progresso,o
desenvolvimento,o crescimento exagerado da cidade. Entre Geisel e golpes a
política brasileira, para variar, vai bem, obrigada, e até manda lembranças e
beijinhos para o povo brasileiro. Macabéa continua em movimento e ouvindo de
quando em quando a Rádio Relógio tocar a música O leãozinho, na voz inconfundível
do jovem Caetano Veloso. Mas quarenta anos não se passaram em vão. Muita coisa
no país mudou para melhor. Talvez a própria
literatura política da intelectual Clarice Lispector tenha contribuído
para isso. Uma coisa é certa: o Rio de Janeiro continua lindo! O que continua
feio é o que vem acontecendo neste seu contexto de agora: trabalhadores de uma
vida inteira têm sua vida
ameaçada: sem salário, sem dignidade, sem segurança e sem poder fazer nada! Os
políticos locais comeram o direito/dinheiro do povo! O que acontece na
política do Rio ilustra as decisões políticas tomadas no meio da madrugada, ou
na calada da noite, em Brasília, na capital federal. Assim, somos todos nós,
trabalhadores brasileiros, macabéas/macabeus mortos, cansados, desesperançados,
sem futuro, sem dignidade, sem salário, sem comida, representantes de nossa
própria miséria. O Brasil não é longe dessa falta de direito adquirido; antes,
é o centro imperial desse vale tudo antipolítico. Quarenta anos depois, fico
imaginado Macabéa nos dias atuais da cidade toda feita contra ela. Teria sido
assassinada, como acontecera com Mineirinho. Ou teria perambulado pelas ruas da
cidade maravilhosa, até cair exausta no chão, de fome, sede, sem trabalho, sem
dignidade, sem dindim para pagar água e luz, nem muito menos para comprar um
pingado num boteco qualquer de uma esquina qualquer de uma cidade qualquer...)
Em meio a estes tempos sombrios e
TEMERosos da política brasileira de 2017,
lembramos, talvez não por acaso, que o livro A hora da estrela, da intelectual Clarice Lispector, faz 40 anos de
sua publicação (1977). Não por acaso porque, ressalvadas as diferenças, o
contexto no qual a novela foi escrita também era repressivo, ditatorial e
sumariamente desalentador. Assim, valendo-se de sua arma mais poderosa, a
linguagem literária, e já talvez antecipando o que Bhabha viria a nos ensinar
depois de que narrar é narrar a nação,
a intelectual tratou, sem dó nem piedade, de uma realidade política pouco
explorada ainda pela narrativa literária brasileira. Apesar de sua participação
na passeata dos 100 mil e de algumas crônicas de protestos, incluindo até mesmo
alguns pequenos textos considerados ficcionais como é o caso do conto
“Mineirinho”, foi por meio de seu compromisso com a linguagem que Clarice soube
se antecipar e dar a melhor resposta possível de como captar a realidade
política daquele momento histórico do país. Mesmo passados 40 anos de sua
publicação, o livro A hora da estrela traz e apresenta-nos um projeto intelectual
arrojado que, entre outras leituras, ajuda-nos a compreender melhor essa
realidade política brasileira que não nos cansa
de surpreender com suas atrocidades, gatunos e malas.
Além da homenagem prestada ao
livro, o NECC, ao propor a temática A
HORA DA ESTRELA CLARICE LISPECTOR, também presta homenagem aos 40 anos de
morte da escritora, ocorrida naquele início de dezembro escaldante de 1977.
Quarenta anos sem Clarice são
correlatos a quarenta anos com
Clarice, já que, em se tratando da crítica brasileira, e até mesmo dos estudos
feitos no exterior, essa crítica nacional não tem feito outra coisa nestes
últimos 40 anos senão elevar a escritora e sua obra ao mais alto patamar já
alcançado por uma intelectual mulher dentro do projeto que sustenta a
literatura brasileira.
Justificada e tornada pública a
proposta temática do IV COLÓQUIO DO NECC, passamos a algumas informais prévias
e gerais acerca da organização e participação no evento.
O CONVITE, inicialmente, é feito a todos os interessados, quer seja
como participantes, quer seja como apresentadores de papers. Visando a que todos os interessados possam efetivamente
participar, trazemos algumas informações necessárias:
1- É condição sine qua non que todo trabalho trate da obra ou vida da escritora, mencione
textualmente sua obra ou aluda diretamente à produção intelectual da escritora.
2- Acadêmico de Graduação pode participar com
apresentação de trabalho, desde que tenha algum tipo de bolsa científica e o
trabalho seja em coautoria com o professor responsável e respectivo orientador
do acadêmico;
3- Pós-graduando, nível mestrado e doutorado,
pode participar com apresentação de trabalho, desde que em coautoria com seu
respectivo orientador de pesquisa;
4- Professores em geral, de preferência que
tenham defendido trabalhos acadêmicos sobre a obra de Clarice Lispector;
5- Professores em geral, cujo trabalho a ser
apresentado seja sobre Clarice Lispector, ou aluda à sua obra por meio de uma
perspectiva comparatista, impreterivelmente;
6- Pesquisadores em geral da obra da Escritora;
7- Interessados em geral cuja proposta passe
diretamente pela obra, vida ou fortuna crítica da escritora.
8- Participantes em geral, sem apresentação
de trabalho, terão apenas que se inscrever no momento oportuno, por meio de
ficha a ser disponibilizada no momento certo.
EIXOS TEMÁTICOS SUGERIDOS:
1-
Clarice Lispector 40
anos depois
2-
A hora da estrela
40anos depois
3-
Clarice Lispector e a
crítica
4-
A política em Clarice
Lispector
5-
Clarice Lispector e os
amigos
6-
Clarice Lispector e a
crítica biográfica
7-
A intelectual Clarice
Lispector
8-
As várias personae de Clarice Lispector
9-
A mulher encadernada
Clarice Lispector
10-
Trabalhos acadêmicos
sobre Clarice Lispector
ATENÇÃO: FICHA DE INSCRIÇÃO, VALOR DE INSCRIÇÃO, NORMAS BIBLIOGRÁFICAS
DO RESUMO ENCONTRAM-SE NO BLOGUE A HORA DA ESTRELA CLARICE LISPECTOR
[...] o que me provoca e inspira para a vida:
estrela acesa
ao entardecer.
Um sopro de vida.
ATENCIOSAMENTE,
Prof. Dr. Edgar Cézar Nolasco
COODENADOR DO NECC E DO EVENTO
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